Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
No Advento esperamos Reino de Deus e o Reino de Deus é um evento!
Enquanto que as maiores inquietudes dizem respeito ao tempo e a hora em que ele irá acontecer, as mais refinadas se perguntam sobre a forma e o modo de seu acontecimento.
O Reino de Deus, entretanto, embora se pareça com um acontecimento é uma construção. A fé no bem que opera no mundo é construtivista, cujo evento exemplar nos é dado com a entrada de Jesus no mundo.
O Reino não se aparece como uma grande construção que golpeia os olhos de maneira espantosa, ele é inaugurado.
Com inúmeros exemplos Jesus transmite a ideia do Reino, e, em nenhuma delas, ele se parece com algo grande e acabado, mas sempre como o primeiro passo na direção de uma construção maior.
Seja como o fermento na massa, seja a semente de mostarda, o Reino sempre está se formando, e quando João pede para indagar se o Reino de Deus já chegou, Jesus o manda dizer que ele apenas começou, pois os cegos veem, os surdos ouvem e os pobres se tornaram destinatários do que existe de mais lindo e agradável neste mundo, o anúncio da Boa-Nova.
O destino do Reino é se multiplicar por toda parte. Não tem hora, não tem limite, não tem prazo. Estende-se por todo lado na soma de ações desinteressadas que ocorrem, em sua maioria, despercebidas.
A vontade do bem e a força dos pequenos são as duas retas que orientam na direção do Reino. O Reino mesmo se forma a partir desses dois lugares.
O Reino de Deus também é coragem. Coragem de saber que uma semente que produz a árvore vale mais que o ouro. A fome saciada de um pequeno vale mais que todo dinheiro nos bancos.
A coragem para a construção do Reino não é gloriosa, é persistente. Tem o dom de não desistir nem esmorecer, até porque quem ajuda na sua construção sabe de não ser o dono da obra, nem aquele que alçará o estandarte da vitória, pois o estandarte já se encontra nas mãos daquele que venceu.
Sendo o Reino tudo isso de inesperado, então, embora muitos acreditem que é preciso um grande poder para consertar as coisas, Jesus na manjedoura fala o contrário. É na coragem e persistência dos pequenos que coisas grandes acontecem. Só os pequenos têm suficiente coragem para deixar tudo e seguir na procura do Reino.
O exemplo de Deus, que se arrancou das infindas alturas para se fazer criança no meio de nós, é a prova que não é pela força que venceremos, mas na imitação de Deus que se fez pequeno, porque os pequenos são mais fortes.
É bem verdade que esta força tem sua origem no serviço ao próximo e à humanidade. Não vem pelo metal ou pelo manuseio dos arreios de guerra, é mais a força dos despreocupados que creem na Ressurreição; dos que acreditam em Deus criança como força que irrompeu no mundo para concretizar toda esperança possível, a ponto de desconsertar o futuro. É exatamente este acontecimento que chamamos de Advento! O que esperamos é algo tão grandioso que chega a ser inesperado, pois aos olhos de quem não ousa crer, sua grandiosidade não cabe no futuro, e mesmo assim Ele veio!