Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Permaneciam em vigília, atendendo à última ordem deixada por nosso Senhor, antes que se elevasse ao céu: “Não vos afastei de Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar” (At 1,4).
A ânima é o que anima, o Espírito é o que vivifica. Aliás, sabemos que o Espírito vivifica porque primeiro é em si mesmo. Para si mesmo é vida e eternidade, pois esteve sempre com o Pai e o Filho; para o mundo Ele é vida, calor e renovação.
O Espírito inunda o mundo continuando a história da criação e da Salvação, conhecida por nós antes de Pentecostes. A sua presença não subtrai nada ao que tinha sido feito, mas adiciona constantes novas ao infinito amor do Pai que nos amou primeiro, e a redenção conciliadora que testemunhou com a sua Encarnação!
Agora, pois, ao nos preparar a nós, os amigos de Deus, com a sua presença e quase inacreditável desapego de si para ser tudo em nós, finalmente estamos prontos. Aquilo que fomos criados para ser foi finalmente revelado quando nos espelhamos no homem perfeito, Jesus Cristo. A sua fidelidade à Deus e à humanidade é o rescrito final de uma história que começou bem, entortou-se pelo caminho, mas se acertou de novo.
Ao testemunhar Deus encarnado, os primeiros de nós puderam se contemplar e testemunhar o que fomos chamados a fazer. Estávamos finalmente prontos para suportar, de modo consistente, a avassaladora vida de Deus mesclada com as nossas próprias vidas.
O Espírito Santo, como o epílogo final do triunfo de Cristo, rasgou o céu de um lado a outro, deixando um rastro indelével no mundo - uma multidão de discípulos, de proporções épicas, que espantou e afrontou as próprias profecias do Apocalipse.
A unidade fugaz da humanidade se concretizou em nós! Com espanto acolhemos o dia de Pentecostes. A vinda do Espírito Santo, nestes últimos tempos, espalhou a vida de Deus em nós. “Como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles” (At 2,3), o mundo é inundado de ponta a ponta pela presença da Trindade.
Cumpriu-se agora o dito de Jesus à Samaritana: “acredite em mim. Está chegando a hora em que não adorarão o Pai, nem nesta montanha nem em Jerusalém” (Jo 4,21), pois Ele estará por toda parte em seus discípulos.
A coragem escorreu em corpos frágeis como antes nunca havia escorrido. Mulheres e homens vigilantes testemunharam a morte e a Ressurreição do Senhor, e desejaram o mesmo para si também. A coragem dos antigos, que arrefecia diante do intransponível e da certeza avassaladora do descompasso équo de forças, deixou de fazer sentidos para quem recebeu o Espírito Santo.
Uma nova força apareceu neste mundo. A força da fé e da confiança de nós, os cristãos, começou uma nova era. A Era dos filhos de Deus em Jesus Cristo, é a era crística, assim definida porque todos que vivem nela venceram a morte. E, antes disso, venceram o medo de morrer, tornando-se imortais e eternos.
Como um fermento, que embora fluido, modela a massa, o Espírito modela o mundo. E a sua modelagem é inquebrável como o é a sua própria vida, que mesmo se distribuindo por toda parte nunca tem fim. O mundo, então, tornou-se outra coisa daquilo que era e que foi projetado para ser. Ao receber o Espírito, o mundo se expandiu ao infinito, e marchou para se fundir com o céu. O Espírito no mundo é o mesmo que reside na Trindade, portanto, o mundo está em acelerada expansão e evolução para Ele.