Nós, os católicos

0

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Dizem muitas coisas sobre nós, mas a verdade é que somos seguidores de Cristo. Nossa história começou há muito tempo, quando, vagando pela beira do lago de Genesaré, o Senhor chamou doze de nós, formou-nos como um grupo e nos deu uma missão: ir pelo mundo anunciando a esperança e o amor.

Não temos muitas leis ou normas, como lembrou mais tarde um de nós: "Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns" (1Cor 9,22). Essa coragem não brotou nem teve sua origem no coração daqueles que a testemunharam mais tarde, mas no coração do próprio Deus encarnado, enquanto caminhava neste mundo.

Lembramos ainda de um dia memorável quando, juntos com nosso Senhor, encontramos uma mulher que estava prestes a ser apedrejada por causa de seus pecados. Éramos submissos à lei, mas Ele nos ensinou que não há nada superior ao amor; por isso, diante de olhos escandalizados, Ele a tomou pela mão e a perdoou. E, para aqueles que continuaram apostando no pecado, e não na Graça, fez daquela que perdoou a primeira testemunha de sua Ressurreição.

Outra vez, o Senhor também nos ensinou que não devemos ter pressa. O bem e o mal continuarão juntos, o joio e o trigo crescendo no mesmo campo testemunham a autonomia do mundo, e que deveríamos ser a alma no corpo, o sal que dá gosto à vida e a lente que faz refletir as cores.

À medida que convivíamos com Ele, fomos nos transformando Nele; ou melhor, fomos nos cristoformando. A identificação cresceu a tal ponto que, certa vez, um grupo abandonou o Senhor e quando Ele perguntou aos que já se tinham conformado à sua vida se eles também não queriam ir, aquele que seria o seu representante na missão de nos confirmar disse: "Aonde iremos? Só o Senhor tem a palavra de vida eterna" (Jo 6,68).

Essa profissão de fé existencial é o que define a natureza do católico. Não temos aonde ir. Só temos o Senhor como garantia. Por Ele, aprendemos a doar a nossa própria vida, pois, como Ele mesmo nos instruiu, é preciso perder esta vida para que a própria vida aconteça plenamente. Exemplo que Ele nos deu por primeiro.

Ficamos apaixonados por Ele; o coração nos ardeu, mesmo quando pensamos havê-lo perdido por três dias. Mas, depois que Ele apareceu vivo, Senhor da Igreja e da história, nos reuniu ainda mais. Sua presença foi sentida em todo canto e, por onde quer que andássemos, éramos sempre precedidos por Ele. A Esperança cresceu dentre nós e começamos a crer que sempre se podia esperar.

Ficando cada vez mais forte na Esperança e na Caridade, Deus quis que estivéssemos em todo o mundo! Ressuscitado e reassumindo plenamente a sua condição e lugar divinos, Jesus acompanha de um lado a outro do mundo a comunidade e, finalmente, a constituiu naquilo que somos agora: Católicos.

Ao desejar ardentemente ver em nós o mesmo amor que tinha pela humanidade o Senhor disse a Pedro: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu rezei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22,31-32).

O mesmo Simão, que havia dito tempos antes, não temos aonde ir, foi posto à nossa frente. Como emissário do Senhor ele assumiu a responsabilidade de nos guiar e declarou: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte”. E, de fato, quando chegou a hora ele foi!

Porque a nossa missão é não deixar apagar no mundo a chama da esperança e acender o fogo do amor, que tudo aquece, o Senhor mandou que fossemos aos ermos e confins da terra, que nos tornássemos universais, e na língua antiga isso queria dizer, Católicos.

Nós, os Católicos, fomos por toda parte e o Senhor nunca nos abandonou. Ele continua, ainda hoje, indicando novos Pedros, que com coragem o segue até a morte. Do meio de nós, Pedro nos confirma e nós repetimos seguidamente quando somos desafiados: não temos e não queremos ir a nenhum outro lugar, que não a ti, Senhor.

Comments are closed.