A imperativa opção pelo pobre

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

No ano do Evangelho de Lucas na vigésima sexta semana, Jesus começa a sua pregação dizendo: “havia um homem rico ... e um pobre chamado Lázaro”, que ficava sentado na porta do homem rico...

Essa narrativa tem um desenlace dramático, porque apesar de suas diferenças sociais, os dois morreram no mesmo dia, e tiveram destinos diferentes.

Continua nos dizendo o Senhor: o pobre morreu e foi levado para junto de Abraão, o rico morreu e foi enterrado (Lc 16,22).

A oposição entre os dois, narrada a partir deste ponto, é mais antiga. Pois o rico jamais se dignou em perceber aquele irmão à sua porta. O erro, por fim, nem estava em suas posses ou riqueza, mas em seu desprezo pelo humano, pois, embora tivessem passado toda a vida juntos, jamais se condoeu com a sorte do irmão.

Na sorte derradeira, porém, naquele momento que a escatologia nos ensina que já não mais disporemos de nossa liberdade: “Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado” (16,23).

Pela primeira vez o rico avistou a Lázaro. As situações se inverteram, e ele não teve vergonha de pedir ajuda, embora a ajuda lhe tenha sido negada.

É de estrema gravidade o egoísmo daquele rico. Preocupa-se tão somente com a sua família, pede que Lázaro volte dos mortos, pois assim eles se converteriam e mudariam de vida. Não há um pensamento universal e fraterno para além dele mesmo e de seu círculo.

Jesus, porém, revela algo de muito mais profundo e dramático na vida daqueles que se apegam ao dinheiro como seu escudo e buscam neste mundo toda a recompensa. Após uma longa insistência para que Lázaro avisasse aos seus parentes, diz Jesus: “se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos".

O ponto aqui é a sua opção fundamental pelo dinheiro e deleite. Não é um desconhecimento das razões prementes da fraternidade humana. Aquele homem rico havia feito a sua escolha durante a vida. Decidiu-se por cuidar apenas de si mesmo, e frente a experiência do desespero máximo, só consegue alargar o olhar até o limite de sua casa.

Não foi pela falta de profecia que aquele homem se perdeu, pois Amós já bradava “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião”, e continua em seguida: “eles irão agora para o desterro, na primeira fila” (Am 6, 1;7). A este ponto a questão é a seguinte: a preocupação com a situação do pobre e com o pobre mesmo não é para nós opcional. A condição daquele que precisa do fundamental para sua existência se torna um imperativo para todo cristão. Desprezá-la é romper o laço sagrado da fraternidade em Deus. É abandonar o próprio Deus e seguir neste mundo servindo ao senhor errado.

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