Deus nos conhece por dentro

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos

A tarefa religiosa se afasta dos demais modos de conhecimento da pessoa humana, porque busca o conhecimento por dentro.

É por seguir nessa estrada que Jesus tanto se afastou da interpretação viciada dos fariseus de seu tempo, que conheciam somente o externo da vida, e neste externo se apoiavam para defender as suas crenças e convicções.

Conhecer o outro por dentro é não apenas ver o pálido reflexo da vida humana; é ver também a potência interna que cada filho de Deus possui. Assim, Jesus desafia os seus apóstolos que se tivessem fé do tamanho de um grão de mostarda poderiam fazer coisas grandiosas, mostrando que nem mesmo eles chegaram perto daquilo que Deus pensa e deseja para nós.

Ao mesmo tempo, Jesus se mostra plenamente satisfeito com gestos pequenos e ricos em significado, como o daquela viúva que jogou uma única moeda no tesouro do templo e foi elogiada. Então, os grandes gestos não se confundem com grandes coisas, embora uma grande fé possa fazer coisas grandes.

A tarefa cristã, cuja meta é de acompanhar os passos de Cristo descritos no Evangelho, assegura-se de sua caminhada quando percorre o itinerário completo de sua vida, vendo-o a partir de sua bondade ilimitada com os pecadores arrependidos, mas potencialmente capazes de conversão até a ira com os vendedores no templo, potencialmente capazes de tornar a religião num grande negócio, cuja finalidade é o dinheiro e o lucro.

Agora, então, podemos pensar se há alguma diferença entre religião e cristianismo ou se são uma mesma e única coisa.

Desde o De vera religione, de Agostinho, aos inúmeros documentos eclesiásticos, sentimos uma sensível diferença e uma tensão entre religião e cristianismo. Não resta dúvida de que o cristianismo é uma religião e pode ser enumerada entre as atividades que, sendo inerentes à natureza humana (homo religiosus), também ajuda a conhecê-lo. Entretanto, a experiência de Deus encarnado no cristianismo faz com que, apenas ele, revele a humanidade em suas possibilidades reais.

Glória e paixão se fundem no próprio Cristo e também em seus seguidores. A segurança posta a prova, a exigência desmensurada da coragem de dar a vida, o sentimento fraterno de que ninguém está perdido, o andar manso e preocupado com as necessidades básicas e sentimentais do irmão, revelam um caminho contínuo e fluído do discipulado que vai se formando. Por isso mesmo, antes de serem chamados cristãos os discípulos de Jesus eram conhecidos como os seguidores de Caminho.

Jesus sendo o exemplo do Cristianismo supera o conceito largo de religião e restringe a sua prática a um modo de vida, razão pela qual nem toda prática judaica foi aceita, nem todo conhecimento foi incorporado, pois só a partir da experiência Deus sentiu a humanidade e a humanidade sentiu a Deus.

Neste embate Jesus revela a Ressurreição e há muitas incompreensões a respeito dela, mas Ele não dava crédito pois conhecia a todos; e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro (Jo 2,24-25).

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