O Salvador do mundo

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

No momento mais sombrio da história, quando a última chama de esperança começava a decair; no entardecer do mundo, marcado por tantas descontinuidades, quando até o próprio templo ruia sob a sombria incapacidade humana de ajustar caminhos e aprumar objetivos; quando as cidades declinaram, os reinos viraram em outra direção, o brandir de espadas era a única luz a orientar o sentido; quando a ira e o desespero cortaram os céus, a humanidade elevou os olhos e foi tomada de surpresa.

Assim chegou Jesus Cristo, Filho eterno de Deus. Nele floresceu a natureza original da humanidade, num brilho e vigor que homem nenhum havia sustentado desde o antigo Adão, antes que sucumbisse ao mal.

No centro do seu estandarte uma cruz, e os que a viram se derramaram em uma torrente de esperança e alegria.

Em sua cabeça trazia uma coroa sem brilho, que nenhum ser vivente podia sustentar, pois fora forjada pelo próprio Deus. Desse modo, soubemos que o Salvador já caminhava na terra.

Uma brisa nova que soprava do Leste desdobrou o seu estandarte. No centro jazia uma Cruz, brilhando e desafiando o mais forte e terrível inimigo dos povos. Em torno dela a figura de doze homens altivos, sérios e sólidos como a rocha, para substituir as antigas tribos de Israel e refundar a esperança histórica numa coisa nova e maior. Junto aos apóstolos uma mulher que lhes atraia o olhar, também ornada com uma coroa, cujo olhar fixava uma construção ornada de um material que parecia antigo e de um tempo anterior ao próprio aparecimento do mundo. Essa construção, erguida em torno do Salvador era consistente, e nunca o decepcionou. Uma assembleia de homens e mulheres que jamais o abandonaram. Receberam dEle a fidelidade, e propagaram no porvir dos tempos uma certeza indestrutível na vida e na eternidade.

Dos primórdios dessas lembranças recordamos com carinho da Senhora da Igreja, seguidora de primeira hora do Salvador, mas que, na consumação do projeto, levantava-se altiva e firme como os pilares da terra, para defender seus filhos. Era como uma Senhora vestida com o sol, caminhando com a lua aos pés, ornada com uma coroa de doze estrelas. Ela se antepunha entre os perigos deste mundo e os membros da nova Assembleia.

Foi assim que a pareceu uma coisa nova na história!

No alvorecer desse dia, a labuta não foi mais temida, pois no cume da cidade santa, onde antes encontrava-se os nomes das doze tribos de Israel, foi reforçada com novos alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (Ap 21,14).

Rejuvenescida e refeita, a Assembleia do Senhor, que é a sua Igreja, marchou ainda cambaleante até os portões de seu adversário, a morte, e com convicção invencível bradou para que ela viesse fora e enfrentasse o seu castigo.

A morte riu, porque ainda era senhora do mundo e sabia poder dominar os campos e turvar a vida dos viventes. Ela ainda era jovem e tinha forças! Em suas veias corriam sangue e vontade de vingança, pois ela mesma não era o último mal, mas mensageira de algo escondido e perverso.

Entretanto, o mesmo poder bondoso de um senhorio que até então impediu a maldade e a mentira de avançarem no golpe final, emerge agora, pois mesmo o dia tendo se escurecido não precisamos mais de sol ou de lua para iluminá-lo, a glória de Deus o ilumina, e sua lâmpada é o Cordeiro (Ap 21,23).

Assim, a vitória que parecia incerta se desenhou de modo avassalador com a presença do Salvador do mundo. Sem medo ou fragilidade, pois, alguém como Ele ninguém jamais havia visto, surgiu como Senhor Altivo e imperioso, em cuja face não existia dúvida, mas tão somente assertividade e o comprometimento com aquele que o enviara.

Como único Senhor do mundo, não poderia deixar à sua sombra outros senhores, principalmente aqueles maléficos e perversos. Por isso mesmo exclamou: “Eu sou o primeiro e o último, o Vivente; estive morto, mas agora estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades” (Ap. 1,17).

Foi ao Hades e sentou-se no trono daquele senhorio perverso e mentiroso, colocando-o sob seus pés e tomando-lhe a aljava.

Detentor das chaves, o Senhor de tudo, não reconhece nenhum território estrangeiro. Até o reino da morte Ele controlou, e como o Pai lhe havia prometido, assumiu a senhoria do mundo e nos salvou.

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