Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
O começo da pregação apostólica não foi muito promissor, pois Jesus alertou que nos enviaria “como ovelhas para o meio a lobos” (Mt 10,16). Desde aquele dia foi necessária uma longa jornada ao lado dEle, até que entendêssemos o significado desse presságio medonho.
Enquanto crescíamos na compreensão, tentamos alguma vezes assumir o lugar do lobo, pensando ser um caminho mais curto para apressar a vinda do Reino. Certa vez, dois de nós, encolerizados com a recusa dos Samaritanos em recebê-los, perguntaram: “Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?” (Lc 9,54). Jesus, entretanto, repreendeu veementemente a Tiago e João.
Jesus sabe que o caminho do Lobo não é o adequado para nós. Ele quer curar-nos dessa tentação, oferecendo-se a si mesmo como cordeiro.
A natureza do Lobo é tentadora! Numa matilha, onde o poder troca a todo instante e o mais forte ocupa o lugar que lhe é devido, violência e truculência são os caminhos promissores. Deus, inclusive, pode fazer isso, se quiser. Todo poder honra e glória pertencem a Ele, como já foi demonstrado por ocasião do dilúvio.
Mas Jesus não quer apenas frear a roda do mal, Ele quer quebrá-la, inutilizá-la para sempre, e essa ruptura precisa acontecer no coração humano.
Por todo lado aparecem soluções iradas que apontam a si mesmas como o caminho a seguir. Por todo lado apresentam-se gurus, como aqueles que precisam ser imitados, quase sempre em sua dureza e intransigência, e quase nunca na debilidade de quem caminha para cruz. Por todo lado encontramos respostas que exigem a posição do lobo, capaz de devorar qualquer um que se oponha às suas coordenadas.
Nessa cruzada, importa-se pouco a autoridade apostólica do Santo Padre, e a sua escolha para continuar a missão de Pedro. Nela, até os fatos começam a importar pouco, pois como sabemos o Lobo não tem pastor. Mesmo quando parece falar em nome de outro, preferencialmente se o outro já não está mais aqui, ele fala em nome próprio. É a sua visão de mundo que surge no horizonte e tenta vir à luz. Assim, surge o lobo em pele de ovelha. Ele já não obedece nem teme a ninguém. Não tem líder nem admiração por nada, inclusive pelo Evangelho.
Vale ressaltar que São Paulo também fez esse caminho torto. Um lobo disposto a tudo devorar para defender a sua doutrina; até que encontrou Jesus, e pode finalmente dizer: “me comprazo nas fraquezas, nos insultos, nas dificuldades, nas perseguições e nas angústias por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então sou forte” (2Cor 12,10).
A força de Paulo, agora, vem do lado oposto àquela do lobo. Ele não é mais ele mesmo, foi pressionado pelo amor de Cristo, e com Cristo mudou a sua vida. Paulo já não vive em si mesmo, mas é Cristo que vive nele; e, graças a essa nova existência, ele entendeu o que Jesus queria ensinar desde o início.
Lobos não tem pastores! Jesus não é pastor de lobos, mas de ovelhas. Quem não se adequar a essa imagem poderá até fazer grandes coisas, mas não o fará pelo Reino, nem com ele terá qualquer compromisso.
A força do Reino, então, não é a força da violência nem da retórica furiosa, mas da paciência de salvar o trigo no meio do joio, de não ceder a tentação do mal, nem se deixar seduzir pelo brilho do ouro. Enfim, compreender que a verdade do Evangelho é encontrada e não decidida. Ela ainda é um tesouro que estamos garimpando num pastoreio confiante e paciente.