Com o que se parece o Reino de Deus?

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

O Reino de Deus é comparado a uma semeadura em diversas circunstâncias e passagens dos Evangelhos. A semeadura e a visão de um campo plantado parece ser o que mais se aproxima de nossa capacidade de compreender o pensamento de Deus sobre o mundo.

A semeadura está sujeita a todo tipo de intempérie. Coisas boas e menos boas afetam a semeadura. Dependendo dos efeitos, o florir e a colheita podem ser alterados circunstancialmente ou de modo duradouro. Entretanto, limão não nasce de pessegueiro.

O discípulo é um semeador que sai para semear. Com o alforje transbordando de sementes ele encontra terra de todo tipo.

Há na vida dos discípulos um dilema, pois não há terra suficiente para receber a totalidade da semeadura. A terra e o mundo não são uniformes, assim como não o é o coração humano. Ainda assim, a semente precisa ser lançada. Estocá-la não é uma alternativa, porque aqui, a semente e o semeador são a mesma coisa. O risco de lançá-la sobre terra árida é aceitável, embora se deva dar preferência à terra boa.

Depois vem a espera. Quem prega o Reino não tem garantia de sua realização. Sabe apenas que não pode parar de semear, pois as sementes sob seus cuidados não devem ser desperdiçadas.

O Reino de Deus, então, é igual a uma semeadura, cresce de dentro pra fora, com força e dinâmica próprias.

As sementes lançadas caem em todo tipo de terreno. Às vezes, o terreno duro lhes resiste; mas, ainda assim, elas conseguem romper-lhe a crosta, e por pouco tempo, consegue germinar, sem jamais chegar a ser aquilo que poderiam ser. Mas, para as sementes que vêm em seguida, a perfuração será maior e a floritura mais duradoura.

Às vezes, o Reino está cercado de espinhos e ervas daninhas. Por todo lado cresce o mal e o perigo. O mal desenvergonhado, o mal que pede para ser admirado, forma um ecossistema. Uma resistência coesa, que só muito custosamente as sementes conseguem penetrar. A semeadura é feita de longe. Mas a semente tem vida própria. Mesmo onde falta a coragem do semeador ela consegue se constituir como força de resistência que para a roda do mal.

A presença invisível do bem, mesmo quando não conseguimos vê-lo, é o empecilho que impede o mal e o frio de prosperarem e abarcarem tudo.

Outras vezes, porém, o bem não apenas descontinua a roda do mal, ele a quebra em vários pedaços, para que se afaste deste mundo.

É quando sentimos com toda força a presença do Reino. Em geral, essa presença não é sentida em grandes e vistosas ações. Elas aparecem no trabalho dos pequeninos que não resistem a quase nada, mas suportam como ninguém a tentação da ganância, do dinheiro e do poder.

Só os pequenos podem transportar o ouro sem se encantar por ele. Só eles podem usar o poder como serviço. São eles os únicos capazes de percorrer uma longa jornada sem olhar para o que carregam no embornal. É por isso que o Reino de Deus começa pequeno.

Das muitas sementes lançadas, apenas as menores conseguem perfurar a couraça da terra, e criar raízes. Só elas conseguem sair de lá para encontrar a luz, crescer e se multiplicar. O divino Mestre sempre ensinou sobre essa pequenez deliberada, e de como a menor das sementes, que ao germinar se torna a maior de todas as árvores é uma imagem do Reino. O Reino de Deus se parece muito com essa semente.

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