Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
“Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: "Segue-me!" (Mt 9,9). Esta é a conversão de um pecador.
Mateus se coloca entre eles, e não qualquer tipo de pecador, mas o pecador público que recolhia impostos para um país estrangeiro.
É um pecado medonho, duplo e deliberado, movido pela ganância e apego a sua própria vida.
Jesus o enxergou no meio da multidão, um trabalhador desolado, cercado de ódio e de censura.
Mas Deus não veio ao mundo para ser morno. Não veio para se adequar aos limites humanos e a ciência da finitude. Ele veio para romper as extremidades da humana esperança e ultrapassar o seu limiar até os infindos extremos deste mundo e do outro. Por isso, seus olhos se voltaram para Mateus, e numa atitude puramente divina, olhou para aquele homem e disse: “segue-me”!
Foi abissal! Um chamado improvável que cria uma esfera nova para a atuação de Deus. O descortinar de um evento violento contra tudo que se tinha experimentado até então. O olhar de Deus que recai sobre os últimos. E o último não se fez de rogado: “levantou e seguiu Jesus”.
A única questão, portanto, é essa, ter a coragem de seguir Jesus sem se lamentar ou se arrepender. Sentir com estupor e temor a força de sua voz, que adentra a esfera rígida das tradições mais medonhas e duradouras.
Jesus viu Levi, o seu nome até então, e ele estava exercendo a pior de todas as profissões, cobrador de impostos. Não impostos como conhecemos hoje, mas imposto para uma nação estrangeira, que com os recursos arrecadados aprimoravam, ainda mais, o processo de dominação.
Esse é um pecado público, e Levi, portanto, um publicano. Quem fazia esse tipo de trabalho parecia não se importar com opiniões alheias, fincavam suas raízes em algum lugar e permaneciam imóveis.
Digna, ainda, é a nota de escândalo por aqueles que se aproximam do pecador público, por isso os fariseus perguntaram aos apóstolos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?”.
Novamente Deus rompe as esferas sociais e religiosas e propõe uma questão simples a respeito de quem precisa de médico, os sadios ou os enfermos? Esse é outra questão séria, pois pode parecer que os fiéis são abandonados. Uma confusão que se resolve na parábola do filho pródigo, pois ali Deus diz: os que estão comigo já recebem todo tipo de bem.
Outra dificuldade é pensar que todo pecador convertido precisa se tornar igual a nós, um erro clássico dos fariseus, que colocam a si mesmos como medida e referência, e não o próprio Deus.
Para solucionar todas essas questões, Jesus vai a casa de Mateus, almoça com ele, e lhe dá permissão para segui-lo como amigo, íntimo e familiar; e para não permanecer mais dúvida sobre o procedimento misericordioso, que supera toda e qualquer expectativa humana, nas encostas baixas de Israel, à beira de lagos salgados e noites desoladoras, Jesus permitiu a Mateus narrar seus milagres e feitos memoráveis, e legar, a todos nós, o Evangelho de sua vida.