Teologia dos três dias

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Na madrugada, depois de dias terríveis, alguns de nós corremos até o túmulo para chorar e testemunhar a morte do Senhor. Um testemunho terrível que fazia vacilar os corações mais destemidos e tremer os joelhos mais robustos.

A vida do cristão se desenvolve dentro de um arco de tempo bastante limitado, mas profundo o suficiente para justificar tudo o que somos e fazemos. Não sem aviso, tudo começou com a entrega de Jesus por um de seus discípulos. Entregue ao juiz iníquo daqueles que se prontificaram a cumprir à risca as Escrituras e as profecias, maltratando o amor. Deus feito carne (verbum caro factum est) sente o mais escuro das profundezas humanas. A violência sem sentido e a humilhação imposta por amenidades políticas julgam a Deus.

Deus, que não responde, não se defende, não agride, mas assume sobre si mesmo a culpa e o pecado que deveriam ser imputados a nós. Deus encarnado não retrocede de seu desejo de salvar a humanidade. Concorda com a condenação, mesmo não tendo pecado ou crime. Quando brama fala com o seu próprio Pai, e é o fim do primeiro dia.

A morte abre um vazio na história. A morte de Deus escurece o mundo. De fato, houve uma grande escuridão como nunca se tinha visto. A falta de luz que vinha de fora cresceu dentro da alma e o mundo começou a duvidar de si mesmo.

Os dias sem Jesus foram os piores que já existiram. A forja que tudo constrói parou de funcionar. Tivesse durado um pouquinho mais, o mundo teria desmoronado, esfriado como quem se afastou de seu sol e se perdido no vaguear infinito onde só há escuridão e medo. Não foi fácil. Só de recordar daquele dia a alma treme de um pavor que não é medo nem frio, mas de uma noite e um vaguear que nunca se acabam.

Sem Jesus, o mundo ficou desolado. Nós que não temos aonde ir perdemos de vez a direção. A reclusão e a fuga tornaram-se as únicas possibilidades. Até o mais ferrenho dos discípulos trancou-se em casa, esperando a hora de prestar contas à derrota e à morte. Assim concluiu-se aquele segundo dia!

A noite que parecia eterna começou a dar sinais de que terminaria. Numa luta medonha entre escuridão e luz, o lusco-fusco começou a desenrolar-se. Não se sabe bem quais foram os olhos que por primeiro enxergaram através das trevas e da noite, mas tudo indica que foram os de algumas mulheres.

Na madrugada do penúltimo dia, elas correram através da noite para visitar o túmulo. Aqui uma prece, que também é o maior grito de desespero da humanidade, maior que qualquer outro grito dado antes, inclusive nas Escrituras Sagradas: Deus nos livre de o Corpo de Jesus jazer naquele sepulcro! Esse impensável e indizível nem pode ser pronunciado, pois não existe, em nossa língua, nenhuma palavra que o possa descrever.

Mas o sepulcro estava vazio! O infindo olhar daquelas que chegaram primeiro, miraram para o fundo do sepulcro através da pedra que fora removida, e o Senhor não estava lá. Há de se esperar que o mundo tenha de novo o seu Sol. Aquele que pereceu na carne, ressurgiu como o Senhor (Kyrios), disposto a fazer o Reino acontecer em sua Igreja e em nós; foi o fim do terceiro dia, e o começo de tudo que há de bom e de belo até hoje!

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