Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos
Enquanto caminhava por uma cidade próxima da Judeia, Jesus recebeu a notícia de que Lázaro estava doente. Não era uma notícia qualquer, pois, de acordo com João, o doente era aquele a quem Jesus amava.
Quanto à possibilidade das duas mortes, a do corpo e a eterna, Jesus disse aos portadores da má notícia: "Esta doença não leva à morte" (Jo 11,4). Embora extremamente decepcionante, a morte de Lázaro era a fatalidade que arrasta cada ser humano ao seu último ato de escolha, por isso Jesus disse que ele não morreria.
A morte de Lázaro, assim como a de todos nós, é o penúltimo ato de uma conclusão testemunhada na madrugada da Páscoa, como já dito por São Paulo: primeiro Ele, depois nós. Ao saber da notícia, Jesus ainda esperou quatro dias antes de ir acalentar as irmãs de Lázaro.
Ao se encontrar com Marta, Jesus sentiu o seu desconsolo, e até a sua profissão de fé foi sombria. A morte produz esse efeito nos corações. Maria também arriscou uma profecia: "Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido" (Jo 11,21). Foi uma confiança abalada que aceitou a irredutibilidade da morte, o limite final que destrói qualquer esperança.
Nem o desconsolo das irmãs, a quem Jesus muito amava, o impeliu a desconstruir a tragédia. Pois Ele sabia que essa escuridão é passageira e se descortina para a vida nova. Jesus chorou diante de Lázaro, que foi descido à sepultura. Ele chorou pelo amigo e se deixou ver chorando. A franqueza de seus sentimentos levou até os seus adversários a dizerem: "Vede como ele o amava".
Entretanto, aqueles que se movem pelo ódio não se deixam demover de seus preconceitos, pois só se importam com aquilo que estabeleceram como verdade, mesmo que não seja verdade. Após quase se comoverem com o amor de Jesus, eles ainda querem mais. Colocam em dúvida o amor de Deus e o questionam a partir das dúvidas que já traziam em seus corações, por isso perguntam: "Este, que abriu os olhos do cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?"
Novamente, Jesus se comoveu. Desta vez, não pela morte de Lázaro, mas pela incredulidade dos homens em seu amor. Deus supera a inimizade e trata os seus opositores como dignos de afeição e ainda mais amor. O amor de Deus não desiste de nós.
Nada é mais digno de Deus do que a oração de Jesus ao Pai. É uma oração que não deseja reconstituir o inevitável, mas não quer que ninguém se perca. Não é mais o amor por Lázaro que move Jesus, mas sim o amor por toda a humanidade, começando pelos que mais precisam, os pecadores. "Levantando os olhos para o alto, Jesus disse: Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste"; e ordena a Lázaro que se levante.
O amor de Deus é assim. Supera a estatura da divindade para se arriscar no terreno escuro do coração humano, razão pela qual, naqueles dias, “muitos judeus creram nele” (Jo 11,45), e nós continuamos crendo até os dias de hoje, porque seu amor é sem fim.