A condição humana

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Numa passagem usual da vida, enquanto caminhava pelas terras de Israel, Jesus se deparou com um homem cego de nascença e seus discípulos perguntaram-lhe com sincero interesse: Mestre, quem pecou para que ele nascesse cego – ele ou seus pais? (Lc 9,2).

Há, nessa pergunta de resposta dada, uma urgência rasa em resolver as coisas que Jesus não aceita.

Tivemos três exemplos nesse percurso quaresmal de perguntas prontas que Jesus corrige desde sua origem. A Samaritana que perguntou onde era o lugar mais Santo, se Jerusalém ou Garizim; Pedro que perguntou quantas vezes deveria perdoar ao irmão, se até sete; e, por fim, o coletivo dos discípulos no dia de hoje.

Ao se fazer uma pergunta com um número reduzido de respostas contamina-se a própria pergunta e não se rompe laços nem paradigmas postos.

No horizonte duas respostas possíveis como causa da cegueira daquele homem, o pecado próprio ou dos pais. Essa questão poderia perpetuar-se e desdobrar-se em muitos outros domínios da vida e da sociedade.

Ao considerarmos a questão dos pobre e dos doentes no meio de nós, também é possível formular a pergunta com respostas postas e dizer: são pobres porque não querem trabalhar, ou são pobres porque não quiseram estudar.

Poderíamos perguntar, então ao Mestre do seguinte modo: Mestre, por que são pobres - por que não querem trabalhar ou por que seus pais não os prepararam para a vida?

De quem é o pecado afinal? Eis uma questão urgente que nos desafia a todos na construção de uma sociedade fraterna e sem fome, para começar.

Ao reduzir a pergunta a um número limitado de possibilidades os discípulos empobrecem a própria pergunta. Por isso, o Senhor, que tudo sabe, alargou-lhes os horizontes e as perspectivas ao dizer que suas respostas não eram suficientes para um litígio tão grave. Diz-lhes Jesus, nem ele nem seus pais pecaram, mas sua condição é ocasião para que a glória de Deus se manifeste.

Ao continuarmos desembrulhando o problema chega-se agora à condição humana dos menos favorecidos, e ao chegarmos com os horizontes alargados, compreendemos que a culpa pode não ser deles ou dos seus pais; talvez seja dos nossos pais, ou nossas. Sua situação, portanto, não é ocasião de condenação, mas oportunidade para glorificar a própria humanidade, chamando cada um a dar o melhor de si e a se fazer irmão de todos.

O diálogo de Jesus com esse cego de nascença é bastante longo, e se desenvolve em mais de um momento, entretanto, depois de haver encontrado aquele que lhe desvelara a sua condição, o agora curado, já não se deixa mais abater pelas respostas estreitas e a elas se opõe! É extremante sério como ele se comprometeu com a libertação recebida e afronta àqueles que pensavam poder lhe ensinar. Quando os fariseus disseram: “Nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não sabemos de onde é". Respondeu-lhes: "Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos”! (Lc 9,28-30).

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