Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
É sobre a justificação que discorre o Evangelho de Lucas 18,9-14. Um tipo de justificação um tanto diversa daquela que se combateu na ruptura de primeira hora do protestantismo.
Em questão, dois homens diante de Deus; o primeiro oferece muito e agradece porque não é pecador e igual aos outros; o segundo oferece pouco e envergonhado.
A justificação, portanto, vem das obras conscientes de quem sabe que tudo que se oferece a Deus vale somente em proveito de quem o oferece. Elas nada acrescentam a Deus, mas mostram a nossa fidelidade.
O orgulho no oferecer e o engrandecimento pessoal, ao contrário, conduzem para longe de Deus e da justificação. Até na sublime forma de vida, a oração, pode se esconder o orgulho e o interesse próprio. Quanto a isso Jesus já expôs exaustivamente: “Se alguém reza para ser visto já recebeu a sua recompensa”. Do mesmo modo, poderíamos continuar falando das oferendas e até da vida ascética.
O Senhor, por outro lado, é um juiz que não faz discriminação de pessoas. A humildade é o combustível requerido para ser acolhido por Deus. A prece do humilde atravessa as nuvens (Eclo 13,21) e chega às alturas insondáveis, onde o julgamento é pronunciado.
A contradição é instalada na parábola de Jesus: “Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos” (Lc 18,10). Dada a comparação, esperava-se que o fariseu saísse justificado. Ele mesmo está confiante em suas obras e em sua fé. Não pede, ele agradece por aquilo que é! Agradece pela diferença e não pela unidade, colocando-se acima do irmão.
Ao ficar de longe, cabeça baixa e envergonhado, o cobrador de impostos uniu sua fé, pois estava no Templo, e sua obra. Genuflexo diante de Deus exclamava “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”!
A coragem de ser e de crer deste homem levou Jesus a concluir: este último voltou para casa justificado, o outro não” (Lc 18,14).
A justificação, portanto, é uma junção entre fé e obra, e é ainda mais! Ela um sentimento de compaixão que se cultiva por si mesmo e pelo outro. Um movimento naquele espaço onde a obra é Graça e a Graça é obra. Onde tudo se mistura e, sem que saibamos como, comove a Deus! Deus comovido é o princípio de nossa justificação.