Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Havia dez homens que vagueavam pelas terras hermas no tempo de Jesus. Eles tinham sido acometidos pela lepra em diferentes etapas da vida, e, desde então, não podiam se aproximar dos centros urbanos nem de outras pessoas.
Quando, absolutamente necessária, a sua passagem pelos lugares povoados, deveria ser precedida por um brado audível, descrevendo a sua condição. Assim, aqueles excluídos andavam gritando noite adentro: leproso... leproso!
Era o brado da impureza que os afastavam de todo contato humano, mesmo do mais fugaz de todos os contatos, o olhar. Olhar para eles era medonho, e muitos não queriam passar por aquela experiência. Corpos e membros deformados causavam náusea a todos. Tamanha miséria só podia ser resultado de pecados graves, razão pela qual ninguém lhe dispensava compaixão.
A providência, entretanto, escolheu àqueles homens para verem o Senhor. Eles não moravam em lugar nenhum. Jesus os encontrou entre a Samaria e Galileia, antes de um povoado (Lc 17,11).
As suas vidas proscritas não lhe impediram de acreditarem que o Senhor era capaz de curá-los, tanto que, ao saberem de sua passagem naquela região, começaram a gritar: Jesus, Mestre, tem piedade de nós.
Eles viviam juntos. Eram Samaritanos e Judeus que a doença tinha unido. Igualados pelo desterro, haviam se irmanados na sorte comum e na miséria. Não se sabe como conheciam Jesus, mas, na reserva última do coração que espera um milagre, Deus está sempre presente.
Ao pedido sincero, que espera misericórdia e cura, Jesus manda aqueles homens se apresentarem aos sacerdotes. São os sacerdotes que têm o poder de declarar quem está curado, mas não de curar eles mesmos!
Enquanto caminhavam para se apresentarem ficaram curados. A bondade e a força daquele que conheciam através dos milagres, operou sobre eles, e nove seguiram em frente. A preocupação desmensurada em prestar contas a quem não tem esse direito produz a ingratidão. Os nove seguiram adiante e foram reabilitados junto àqueles que antes os excluíam.
Entretanto, um deles voltou. Porque duplamente segregado pela doença e por sua condição de estrangeiro, sabia de não dever nada para os mestres da lei, mas sim ao homem que lhe tinha curado. Por isso voltou.
Ao vê-lo Jesus não pôde deixar de asseverar: “não foram dez os curados”, os outros por onde andam? Por onde andam os ingratos incapazes de perceber a quem devem reverenciar e dar glórias? A ingratidão acontece, principalmente, quando damos glória ao senhor errado, ao dinheiro e ao poder em nós mesmos. O coração ingrato jamais se cura. A sua autorreverência abre muitas outras feridas e provoca dor no ingrato.
Apenas um voltou. Um estrangeiro da Samaria convalesceu. E, porque convalescência, em sua origem, significa voltar para casa, ele voltou para a fonte de sua cura, não se afogou em seus próprios olhos, e mereceu de Jesus um segundo milagre, a salvação eterna.
A gratidão daquele homem o separou dos demais curados; o curou de dentro para fora, erradicando a sua condição de leproso e de estrangeiro, e o fez um morador da Cidade de Deus, nesta vida e na outra. A gratidão, portanto, é uma significativa fonte de cura.