Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Numa das passagens mais envolventes e dramáticas do Evangelho de Lucas Jesus põe em alerta a atenção dos discípulos e as nossa.
Em questão, os muitos amores que repartem o coração, dividem a fidelidade e desaprumam os objetivos.
Considerando verdadeiro o dito que "onde está o teu tesouro, ali também estará o seu coração”, entendemos como é forte o alerta recebido.
À Deus se opõe muitas coisas. As mais clássicas delas, talvez, sejam as tentações de Jesus no deserto: o poder ser como Deus e a subsistência fácil. Os “senhores” que se opõem ao Senhor são muitos. Multiplicam-se neste mundo e ramificam por muitas partes. Cada uma delas colorida com uma cor própria e ardilosamente disposta diante dos nossos olhares.
O olhar disturbado que se perde na admiração dos muitos ídolos se afasta consideravelmente do verdadeiro tesouro.
No centro de tudo, inclusive, como medida universal está a questão do dinheiro. Ele arrasta os corações humanos e se disfarça numa infinidade de coisas. Coisas que envolvem a vaidade, sempre mensurada quantitativamente pelo que pode adquirir: admiração, louvores, reconhecimento...
Os ídolos que começam a se oporem vão se refinando no encontro de Jesus com o mundo. Razão para a idolatria pode ser até mesmo a Lei, quando se desgarram das necessidades humanas se tornam instrumento de tortura na boca dos fariseus.
Se até a Lei, forma sublime que o povo de Israel encontrou para atestar a sua fidelidade a Deus pode se tornar um ídolo em oposição a Graça que Jesus oferece, muitas outras coisas também podem sucumbirem nesse descaminho. Servir exclusivamente a si mesmo e aos seus entes queridos, também é outra trapaça que pode dividir o coração. O Cristão é chamado a se enveredar pela estrada da fraternidade universal. Sob a paternidade comum, que nos faz todos iguais, o cristianismo rompeu com as cadeias da divisão no mundo antigo, ecoando no grito de Paulo que fez tremer as bases da sociedade de seu tempo: não há mais judeus ou gregos, somos todos de Cristo.
Fechar-se em si mesmo e no parentesco mais próximo, também idolatra uma relação que deve gerar espaços novos e aumentar o seu círculo até envolver a humanidade inteira.
Por fim, o dinheiro em si mesmo. O seu acúmulo despropositado faz com que o seu possuidor não confie em mais ninguém. Apenas apaga o seu desejo de tudo possuir e de não prestar contas a mais ninguém. Um desejo profundo incrustrado no coração humano, por isso mesmo, uma das maiores tentações que há!
Achar o seu justo valor e utilidade é a chave para resistir a essa tentação. Saber que o dinheiro serve para sustentação e autonomia, ajudar aos que precisam e socorrer ao mais pobre é a arma que impede de elevá-lo a condição de ídolo. Assim, livre dessa oposição podemos reintegrar os corações para o único e verdadeiro Senhor, considerando com toda seriedade possível aquela alerta que Ele próprio nos fez: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16,13).