O tesouro e o coração

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Onde está o teu tesouro, ali também estará o teu coração – com essa frase Jesus resume uma série de ensinamentos que coloca os seus seguidores em alerta, naquele tempo e ainda hoje.

Em questão o fato das inúmeras distrações numa lista interminável de situações que a vida apresenta. O excesso de segurança que o humano procura na colheita abundante até a perca de esperança no retorno do Senhor daqueles que não mantiveram os rins cingidos nem as lamparinas acessas.

Os rins cingidos é o cordão usado para amarrar a túnica quando ela é levantada a fim de não se enroscar nos pés durante a corrida. Os rins cingidos são mais propícios para quem corre do que para quem anda.

A lamparina acesa, por sua vez, destaca a prontidão daquele que está aviado para guiar outro pelos corredores de uma casa e quando unido ao cingimento dos rins indica que se está pronto para pegar a estrada.

É agora, então, que começa a corrida que São Paulo comparou à vida de um atleta, numa disparada que começa neste mundo, mas só acaba no Céu.

Assim, Deus se torna a tarefa infinita do caminhar e o seu Reino a tarefa permanente da construção. E é entre essas duas tarefas que muita coisa pode acontecer, sendo mais normal o desvio da atenção, a excessiva preocupação com as minúcias da vida que se tornam tudo da vida, como nas preocupações de Marta ou na desviada e afetada visão dos fariseus.

Os tesouros se multiplicam pelo mundo. Pode atingir os recônditos mais profundos da alma e desaprumar completamente os objetivos do Reino.

No auge dessas preocupações menores, São Paulo recomendou a Tito de não se desviar do alvo e não perder tempo com “questões tolas, genealogia, contendas, debates em torno da lei, porque são coisas inúteis e vazias” (Tt 3,9).

Como dito em muitos lugares, pelo próprio Mestre, essas distrações existem e não podemos simplesmente ignorá-las, pois é neste mundo que o Reino se constrói. Entre joios e espinhos o trigo tem que abrir veredas para germinar.

O coração católico, que tem Cristo como único tesouro, portanto, não pode se desviar do seu Sol. Entre as mazelas de um mundo onde tudo se mistura, apenas a certeza de ser conduzidos por uma Luz que brilha, apesar da densidade da escuridão, salva.

O foco, portanto, é fundamental na missão dos seguidores de Cristo. Unidos pelo mesmo nome, a missão se tornou Universal, e pela primeira vez em Antioquia os seguidores do Caminho foram chamados de Cristãos. Desde aquele dia que temos uma só missão, um só objetivo, um só caminho. Uma Missão que não tem tempo para amenidades. Que até gostaria de gastar tempo com elas, mas não dispõe dele. A urgência do Reino se impõe no coração dos Católicos. A vida do Mestre, a quem tanto amamos, precisa se sobrepor sobre as vertentes desvirtuadas que estabelecem as suas urgências sobre a Urgência do Reino.

Ao se encontrar, portanto, numa luta pelo coração humano, neste momento histórico, como em todos os outros, o caminho ainda é o mesmo – permanecer desperto – ajustando o caminho e aprumando os objetivos, com lâmpadas acesas e sandálias aos pés. Coração fechado contra exageros e esquesitices, totalmente voltado para o Reino que Deus mesmo é o arquiteto, pois onde está o seu tesouro, ali também estará o seu coração.

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