Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
A subida do Senhor ao Céu foi o segundo ato de separação entre Jesus e os seus discípulos.
Toda separação produz desconsolo e agonia no coração. Eles pensaram havê-lo perdido quando da Crucifixão. Demoram a entender o desígnio do Pai. Esconderam-se, fugiram, mudaram de atividade, até que tudo se revelou.
A confiança voltou quando exclamaram: é o Senhor! É Ele na porta do túmulo, é Ele no caminho de Emaús, é Ele caminhando solitário à beira do lago.
O Senhor, portanto, venceu a morte! De dentro para fora curou a descrença de nossos corações e nos pôs a caminho! Mas, recentemente Ele subiu ao céu, e nós ficamos a olhar! Uma segunda despedida dilacera ainda mais o coração dos discípulos! Estão parados observando Jesus se elevar às alturas. Alturas infinitas no retorno para casa, para junto do Pai, de onde tinha vindo.
Desconsolo profundo naqueles que observavam! Os cinquenta dias de preparação não foram suficientes! Era muito cedo! Jesus se elevou aos olhos e todos.
Nós fomos deixados para trás! Tão grande foi a aflição que os anjos precisaram intervir: homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? (At 1,11).
Mas não era só isso! Tinha mais! A Ascenção do Senhor dirimiu todas as dúvidas. Ao vê-lo se elevar eles o adoraram. Finalmente tudo ficou claro, pois só a Deus se adora e o terror dos corações era tremor da extrema proximidade com o divino, de cuja fraternidade às vezes demoramos a acreditar.
Entretanto, quem viveu muito tempo perto de Deus não pode vê-lo se ausentar nunca mais. Não é mais possível não estar com Ele. Não se pode viver sem Ele! Somos discípulos do Ressuscitado, é bem verdade, mas a verdade às vezes não basta, precisamos de mais.
O Deus de amor, portanto, tomou todas as precauções. Em sua despedida nos prometeu: Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu (Jo 24,49).
Era preciso que Deus não nos deixasse mais sem Deus. O convívio com Jesus mudou a nossa natureza, passamos a ser como Ele. Imitá-lo em seu modo de agir e de falar. Imitar o seu caminhar e a sua atenção com os pequenos e pobres. O imitamos no seu jeito de vestir e de perdoar. Transfigurados de nós mesmos nos configuramos com Ele, e dessa experiência não se pode regredir. Queremos sempre mais. Pois como pode o humano voltar a ser o que era depois de ter vivido tão perto de Deus. O adoramos na despedida, mas precisamos que Ele volte.
O desconsolo e a lamentação precisam ser curados. Foi por isso que Jesus disse: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria (Jo 16,20).
Para voltarmos a ser alegres precisamos da mesma medida de proximidade com Deus que tínhamos experimentado, uma proximidade que será devolvida quando o Espírito Santo vier, e atravessando o mundo de leste a oeste e de norte a sul, será presente em todos e nos revelará até mesmo as coisas futuras. E no futuro estaremos juntos com Ele novamente.