O Evangelho de Marcos diz que, um certo dia, enquanto Jesus estava caminhando veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: 'Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna’?
Esta pergunta ecoa pelos séculos no coração da humanidade e o caminho mais conhecido é a observação de certos mandamentos. Entretanto, ao dizer que já observava todos os mandamentos descritos, aquele homem pareceu justificado, mas isso não foi suficiente para Jesus, que lhe pediu algo a mais, vender os seus bens, doar aos pobre e segui-lo. Mas ele não foi capaz de fazer isso, e se afastou de Jesus. Então, o seguimento restrito dos mandamentos não foi suficiente para lhe garantir a salvação.
Vejamos a segunda hipótese. Parece, então, que a salvação provém do desapego aos bens materiais e a distribuição aos pobres.
Mas esse caminho também parece não prosperar, pois Marcos nos lembra que após ouvir a sua dedicação em seguir os mandamentos Jesus olhou para ele com amor. A observância dos mandamentos é um esforço profundo da fragilidade humana que busca a Deus, e dele tenta se aproximar como pode. Então, essa segunda via também parece insuficiente.
Unamos, pois, as duas para examinarmos se dá certo. Seguir os mandamentos e distribuir tudo que se tem pode ser a chave para a vida eterna? Tão pouco essas duas vertentes parecem promissoras.
Mas se não vem do seguimento aos mandamentos, nem vem da distribuição dos bens, então, de onde vem o que salva?
Esse assombro está sobre as costas dos apóstolos. Aos se escandalizarem com a resposta de Jesus, perguntam: mas quem poderá se salvar?
Nos Evangelhos que temos escutado, nos últimos dias, Jesus insiste em descrever que o Reino dos Céus é de quem se faz como criança, e até se aborrece quando os discípulos tentam impedi-las de se aproximarem dele.
Como para a criança, a riqueza não pode ser quantificada quanto ao seu volume, mas o quanto prende o seu coração, pois onde está o coração lá está o tesouro de alguém. É possível fazer seu tesouro do muito e do pouco, mas a criança não faz. A sua confiança é nos pais, as coisas lhe servem enquanto serve, e depois são descartadas, só os pais lhes são necessários.
As crianças parecem não seguirem os mandamentos, por isso são impedidas de se aproximarem de Jesus, mas ele rejeita esse impedimento e as puxa para si: deixai vir a mim as criancinhas!
O que salva, portanto, vem da mais completa confiança no amor de Deus, para quem nada é impossível. Vem da confiança imolável na misericórdia que desde o início foi Graça, e nada mais! Depois disso vieram as outras coisas, mas para se salvar precisa voltar ao início.