Não ser profeta, para ser profeta

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

A profecia causa lacunas e estranhezas nas falas de quem a defende e de quem a ataca. Há uma compreensão larga no seu significado que se mistura com a compreensão do ato de profetizar. Por isso mesmo, é um conceito volúvel que abarca uma infinidade de abordagens.

É instigante como Amós rejeitou o título de profeta que Amasias quis lhe conferir (Am 7,12-13). Amasias define o campo de trabalho do profeta e limita o alcance da profecia. Está, portanto, fora de questão profetizar na cidade do rei, profetizar sobre o rei e a respeito do rei.

A profecia permitida é especulativa, mas não é prática! Ela não pode abordar a irrupção da história no tempo presente. Está autorizada a cantarolar o passado ou adivinhar o futuro, mas não descrever o agora.

É diante desta compreensão que Amós grita: não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros (7,14).

A beleza cantada de um passado que não vinga no presente não mantém o rebanho de pé. Estações chuvosas de outrora não fazem florescer os sicômoros de hoje. O pastor e o agricultor se encontram na pessoa de Amós, que se importa com o agora, e o agora revela a corrupção do rei, então é isto que deve ser anunciado.

O profeta que Amasias propõe não interessa à Amós. Diz em outras palavras Amós: se isso é profecia então eu sou outra coisa, pastor de gado. Também não descendo desta linhagem.

Entretanto, Amós não desconsidera ser ele mesmo um profeta. O senhor lhe disse: vai profetizar para Israel, meu povo (7,15). Então, o não ser profeta não é um impedimento para profetizar.

A força da sua mensagem é que é profética. A profecia não tem lado nem dono, ela é inspiração recebida de Deus que desmascara os ídolos que ousam subir de seus recônditos para a luz do dia.

A profecia acompanha os fatos na história e cadencia a sua narrativa com a verdade que eles escondem. A profecia é quem valida o profeta, não o contrário. Pois os argumentos não mudam o fato.

Ao não ser profeta segundo as conveniências de Amasias, Amós se mostrou bem mais capaz de profetizar do que supunha o seu interlocutor, e conjugou essa antítese aparente: não ser profeta, para ser profeta! 

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