A era das forjas

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Na iminência do Advento começamos a ouvir os conselhos do Mestre para estarmos sempre de prontidão, porque o Senhor da Messe pode chegar a qualquer momento.

Lâmpadas acesas e rins cingidos são sinais de quem está sempre pronto a pegar o caminho, iluminar a escuridão e permanecer desperto.

Há também, na liturgia desses dias, uma passagem que demonstra a complexidade do momento histórico no qual Jesus vive. Uma época onde os remendos já não mais conseguiam se ajustarem ao todo, nem tornar funcional a estrutura que estava ruindo. É neste contexto que o Senhor de tudo declara:

Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! (Lc 12,49).

O fogo é o que derrete o metal na forja e remodela a matéria. O que não dá mais para ser consertado deve ser fundido.

O resultado da fundição é imprevisível, porque dependerá da habilidade do artesão e das capacidades inatas e adquiridas de quem irá modelar.

Antes de fundir é preciso tentar consertar, mas às vezes essa possibilidade termina e o Fogo abre caminho para uma coisa nova.

Jesus acendeu e lançou o fogo sobre a terra, e a terra nunca mais foi a mesma desde então. O medo e o terror se apoderaram de muitos corações, e nações inteiras tentaram remendar, mas o fogo já estava aceso.

Ninguém gostaria de viver em épocas em que o fogo é necessário, mas não cabe a nós escolher o nosso tempo, mas tão somente o que fazer no tempo que fomos postos.

A nossa época se apresenta como uma era que está sendo forjada pela multidão de acontecimentos que liquidaram o século XX ainda no seu desenrolar. Os conceitos clássicos, o trabalho, a política, a economia, estão sendo forjados pela tecnologia e pela mentalidade contemporânea.

Também Evangelização e Missão ressentem dessa necessidade. Ao anunciar, já em 1979, a urgência de uma nova Evangelização, João Paulo II, intuía que o tempo da forja se aproximava, e desafiava toda a Igreja a se reorganizar para remodelar o mundo.

Quarenta anos passados, mas se olharmos mais atentamente, ressaímos aos primórdios do Concílio Vaticano II, e até antes, o fogo que derrete a Idade moderna já se aquecia aceleradamente através de eventos que resultaram na abertura de alguns caminhos e no impedimento de outros.

Diante da forja que arde são possíveis dois procedimentos: retornar para tentar unir pontas ou modelar uma coisa nova.

O primeiro não apenas é irrelevante como pode demonstrar-se impossível, já que a fundição destrói a solidez das coisas, revelando o perigo de amarrar pontas no nada. Por outro lado, o que nasce da forja não é matéria diferente da que entrou. É a mesma matéria que continua lá, mas agora suscetível de novas conformações.

Tudo isso nos remete ao nosso tempo e as experiências evangelizadoras dos embates nas redes sociais, do areópago ilimitado e da capacidade indeterminada de falas e de influências. A reação antecipada de corrigir e modelar este novo mundo é infrutífera, pois na maioria, nem mesmo sabemos como ele funciona.

Esse é o temor provocado pela forja, não ter certeza do que sairá dos fornos. Entretanto, um pessegueiro não produz uvas, e tudo que necessitamos para continuar a Evangelização e a Missão está preservado, pois é dado como matéria sobre as quais a modelagem não altera a essência. Ademais somos alertados por Jesus quando diz: “Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente”? (Lc 12,56).

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